De legumes e livros, Farsa filosófica de Jean-Pierre Martinez
A fachada de uma mercearia, que também serve como livraria, é o cenário para deliciosas trocas entre um merceeiro filósofo e os seus peculiares clientes em busca de respostas para as suas perguntas existenciais.
Uma farsa filosófica que mistura situações rocambolescas com reflexões sobre a absurdidade do mundo.
Título original em francês : Primeurs, une farce philosophique
Tradução pelo próprio autor
Distribuição possível para 9 atores:
1H/8M, 2H/7M, 3H/6M, 4H/5M, 5H/4M, 6H/3M, 7H/2M, 8H/1M
Distribuição possível para 8 atores:
1H/7M, 2H/6M, 3H/5M, 4H/4M, 5H/3M, 6H/2M, 7H/1M
Peça publicada online em janeiro de 2013
Peça estreada em Château-Gontier, Le Rex, no dia 1 de abril de 2020
Tradução para o espanhol do autor: Frutas y verduras, Farsa filosófica
Tradução para o inglês do autor: Of vegetables and books, A Philosophical Farce
Análise
A peça De legumes e livros, Farsa filosófica é uma farsa filosófica que combina comédia absurda, reflexões existenciais e situações rocambolescas. Passa-se principalmente em frente a uma pequena loja que funciona tanto como mercearia quanto como livraria de livros em segunda mão, gerida por Sócrates, um merceeiro-filósofo cujas respostas são repletas de sabedoria e ironia.
Neste universo excêntrico, onde tudo serve de pretexto para explorar grandes ideias, personagens coloridos cruzam-se e trocam diálogos que misturam leveza e profundidade:
- Socorro, uma cliente excêntrica, questiona os mistérios da existência enquanto manuseia bananas e livros. Declarada morta após um acidente absurdo com uma máquina, ela retorna dos mortos, trazendo reflexões sobre o destino e a resiliência.
- Eva, uma poetisa desconhecida, procura desesperadamente um exemplar do seu livro de poemas Rimas Órfãs, perdido no naufrágio da sua casa-flutuante. A busca transforma-se num encontro romântico ao encantar Alban, um leitor sensível, enquanto partilham um melão.
- Sánchez, um comissário caricatural, investiga um caso improvável: o plágio de todo o universo. Entre rebanhos de unicórnios e suspeitas sobre os cogumelos alucinógenos de Sócrates, acaba por revelar que tudo não passa de uma gigantesca encenação.
A peça aborda com sátira vários temas:
- Filosofia: Os diálogos, cheios de ironia, fazem uma paródia aos grandes conceitos filosóficos, especialmente à busca de sentido, com questões como: «Porque existe algo em vez de nada?»
- A sociedade e as suas absurdidades: Através de situações disparatadas e personagens grotescos, a peça critica a polícia, as instituições e as normas sociais.
- O amor e a condição humana: As relações humanas, por mais absurdas que sejam, sublinham o desejo universal de conexão e reconhecimento.
- Destino e ilusão: Ao tratar o tema da falsificação do universo com humor, a peça convida a refletir sobre o que é verdadeiro ou falso nas nossas perceções.
- A peça conclui-se com um toque metateatral: Sócrates revela que nem ele nem Sánchez são quem dizem ser, destacando que tudo—incluindo diálogos e personagens—é apenas um jogo de aparências. A frase final de Sócrates sobre o lançamento de tomates resume o espírito de De legumes e livros, Farsa filosófica: por trás do absurdo esconde-se uma crítica mordaz mas alegre da condição humana.
De legumes e livros, Farsa filosófica é uma obra onde o humor e as reflexões existenciais se entrelaçam com elegância. Cada linha, cheia de duplos sentidos, convida ao riso enquanto questiona as absurdidades do nosso mundo.