Os homens doentes de medo…
Quem teria imaginado, há apenas alguns anos, que chegaríamos a essa situação – e tão rápido? A situação completamente inédita em que todos nos vimos mergulhados por longos meses nos leva a refletir, de maneira mais ampla, sobre o mundo em que vivemos, sobre a classe política que nos governa e, já que a democracia não sucumbiu totalmente ao vírus do autoritarismo, sobre nossa própria responsabilidade ao tê-la levado ao poder e mantido lá.
Podemos realmente confiar inteiramente em governantes e administrações absurdas para conduzir nossa sociedade, doente de medo, pelo caminho da recuperação? Esta crise sanitária, sem dúvida, colocou em questão, acima de tudo, os limites do princípio de delegação de poder dentro da democracia em que vivemos. Tanto nos Estados Unidos quanto na França, confiar nosso destino, uma vez a cada quatro ou cinco anos, a um Rei Ubu é realmente o que entendemos por democracia?
Longe de todas as teorias conspiratórias – que, no fim, servem apenas para confortar o cidadão em um papel de espectador passivo – essas quatro peças têm como objetivo, acima de tudo, abrir um debate, sempre com um toque de humor. O teatro tem como missão fazer as perguntas certas, não oferecer respostas, pois estas devem ser encontradas por cada um antes de tentarmos, juntos, colocá-las em prática.
Passaram sete anos desde que todos os teatros foram encerrados devido à crise sanitária. Três presumíveis actores chegam ao palco para um casting. A menos que se trate de uma leitura pública. Ou mesmo a estreia do espectáculo… O problema é que eles não têm o texto da peça. O autor ainda não o escreveu. Vamos ter de improvisar…
Quatro pessoas que não se conhecem encontram-se, infelizmente em quarentena, no que se revela ser um teatro abandonado. Atrás de um vidro imaginário, algum indivíduos (os espectadores) observam-os. As pessoas supostamente doentes interrogam-se: « Por que vírus poderiam ter sido infectadas, qual é exactamente o seu risco, quando e como é que tudo isto vai acabar? Gradualmente revela-se que este impasse se instala num futuro próximo, no qual o Big Brother reina supremo, e que a razão para esta quarentena talvez não seja estritamente médica.
A política frequentemente assemelha-se a uma partida de xadrez, excluindo qualquer noção de moral. Quer seja alguém jogando com as peças brancas ou negras, trata-se sempre de um lado vencendo o outro para que reste apenas um rei. Um jogo absurdo, uma vez que com a derrota do oponente, o jogo também chega ao fim. E o único futuro possível só pode ser uma possível revanche. Este é o tema desta comédia mordaz, onde o rei e a rainha, e aqueles que conspiram para substituí-los, não hesitam em sacrificar peões para ganhar a partida. Uma ilustração trágico-cômica das extravagâncias às quais aqueles que sucumbem ao vírus da política podem se entregar…